14 de abril de 2022
Operação padrão da Receita represa cargas e já prejudica produção de sabão em pó e pães – Economia
Cargas paradas nos portos por quase três meses. Navios sem espaço para descarregar mercadorias. A operação padrão dos auditores do IRS interrompeu a importação de insumos e dificultou a produção de produtos que vão de pãezinhos a sabão em pó.
Levantamento do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI) mostra que a movimentação de servidores aumentou o tempo médio de desembaraço de cargas importadas via portas e aeroportos do Brasil. Os dados constam de uma carta que será enviada nesta quarta-feira, 13, ao ministro da Economia, Paulo Guedesobtido por Estadão/Transmissão.
Apoiado por empresas multinacionais como Nestlé (alimentos e bebidas) e Unilever (alimentos e produtos de higiene), o documento apela ao governo para que a situação seja tratada “com a devida seriedade” e resolvida para evitar um “efeito dominó” na economia brasileira.
“Esses atrasos afetam não apenas as operadoras que lidam diretamente com exportações e importaçõesmas também pequenas empresas que atuam exclusivamente no Brasil, que dependem de componentes importados”, afirma o texto.
Empresas como General Mills (alimentos), baixo (química) e Sylvamo (papel) e entidades de setores que incluem higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (Abihpec), café solúvel (Abics) e de limpeza (Abipla).
“Todo o setor de comércio internacional está amarrado. Nossa intenção com a carta é levar ao ministro uma situação que atinge todos os setores, fábricas e fábricas e que pedimos que seja resolvida o quanto antes”, disse o coordenador do instituto, Leandro Barcellos.
Desde o final do ano, os fiscais vêm fazendo paralisações e cobranças como forma de pressionar o governo federal a recompor o orçamento da agência e regular o bônus de eficiência pago aos auditores. O movimento começou depois que o presidente Jair Bolsonaro promessa de reajustar o salário dos policiais federais, o que desencadeou greves também entre servidores Banco Central, Tesouro Nacional, INSS e analistas de Comércio exterior.
Atrasos aumentam os custos do negócio
A demora da Receita Federal na liberação de cargas importadas pode levar a um aumento no preço do pão francês e fazer com que sabão em pó e amaciante fiquem sem prateleiras. Vários setores da economia dizem estar sendo prejudicados pela movimentação dos auditores fiscais, incluindo alimentação, higiene e limpeza, bens de consumo, automóveis e varejo.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Sanitização (Abipla), Paulo Engler, há relatos de empresas associadas aguardando a liberação pelo fisco de insumos que chegaram ao Brasil meses atrás.
Uma grande fabricante de produtos de limpeza que pediu anonimato aguarda a liberação da matéria-prima há 83 dias. “Já tem parte da produção parada, parte dos reagentes, parte dos laboratórios. Temos medo de que possamos ter problemas em toda a linha de produção. O atraso é muito grande e acendeu uma luz na indústria, que pode sofrer interrupções se não houver uma liberação rápida”, disse ele.
No caso de trigoo vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh, diz que há 38 mil toneladas armazenadas em Santos (SP), o que corresponde a 27% da quantidade moída em um mês no Estado São Paulo.
Entrada para farinha de trigo, pães e massas, há cargas de grãos parados por 14 dias, segundo ele, enquanto a liberação ocorreu até 48 horas antes da operação padrão. “Isso começa a comprometer o estoque das usinas. No momento, ainda não há escassez de suprimentos, mas não posso dizer que não haverá porque não tenho previsão da Receita Federal de quando a carga será liberada”, disse.
Saigh avisa que a capacidade de armazenamento dos silos está no limite e há cinco navios chegando nos próximos dias. Sem poder descarregar, os navios ficam parados em Santos, o que causa um prejuízo de R$ 210 mil por dia aos importadores.
“Não tem como não repassar isso para os preços. Já estávamos atrasados, o preço do trigo aumentou 40% devido ao guerra, o frete dobrou. A indústria desempenhou seu papel, programou-se, foi lá, alugou um navio. Agora precisamos de alguma atenção do IRS”, disse ela.
movimento ‘inevitável’
o presidente de Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco) disse que a medida é “inevitável” para evitar perpetuar a situação atual, em que o governo cortou o orçamento da receita em 50% este ano.
Apesar das filas na alfândega, ele diz que o governo continua “fechado ao diálogo”. “Dizem coisas genéricas, que entendem nossas reivindicações como importantes, justas, razoáveis. Mas eles não dão um prazo para resolver os problemas”, acrescentou.
Quando contactado, o IRS não respondeu.
Fonte: Últimas Notícias